Bela s/d
Michele Cammarano
(Itália, 1835-1920)
Óleo sobre tela
Coleção Particular
Freddie Booker Carson & Simon Carson
A leitura do livro de Agualusa, Um estranho em Goa, mencionado na postagem anterior, lembrou-me que o autor cita, uma parte de um dos mais belos poemas de Luiz de Camões, uma redondilha de sua Obra Lírica. Aproveito para reproduzir aqui e relembrá-lo com os meus amigos. Mais conhecido por seu primeiro verso, Aquela Cativa, foi feito para Bárbara, uma escrava em Goa.
Aquela cativa
Luiz Vaz de Camões
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Ũa graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Aquela cativa (1595 – redondilha 106)
Fantástico trabalho de redescobrir Camões, e de descobrir Michele Cammarano, que poucos conhecem.
Obrigada! Sim uma combinação que me agradou muito (quadro e o belíssimo poema).
Uma combinação de diferentes que não gerou uma dissonância.
😎
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